(11)97897-4885 - 4497-0903
TRANSTORNOS DO HUMOR: DEPRESSÃO E MANIA (Lannoy Dorin)
21/02/2015 01:49
Humor (mood, em inglês) é um estado de baixa e duradoura, mas não permanente, intensidade emocional. Portanto, difere de afetividade, que envolve emoções, sentimentos e paixões e que, na antiga Psicologia, era uma das funções mentais, ao lado da cognição e da volição.
Os transtornos do humor dizem respeito ao desequilíbrio do tônus emocional, e se apresentam como estado de depressão e comportamento maníacos.
No DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico) eles são assim considerados somente quando não há evidência de transtorno físico ou de alguma incapacidade. E são classificados em bipolar I (episódios maníacos e maníaco-depressivos) e II (depressivos e hipomaníacos); depressivo maior, menor, breve, recorrente, disfórico, pré-menstrual, devido a uma condição médica geral e o induzido por substância; ciclotímico (alternâncias cíclicas de depressão e mania); e distímico (baixo astral, ruptura do afeto normal, quando dura pelo menos um ou dois anos).
A par dos sintomas físicos (perda do apetite, insônia e distúrbios viscerais), a depressão é um estado psicológico em que a pessoa tem um sentimento de culpa, nunca bem definido, e se sente fracassada, inadequada, desesperançosa, pessimista, triste e anedônica, isto é, sem interesse nos prazeres da vida. No estado agudo do transtorno, ela tem o desejo de se matar, o que geralmente não ocorre.
A depressão pode ser considerada como o oposto da mania. São os dois extremos, respectivamente inércia (tamas, da Ioga) e atividade (rajas) em grau anormal.
Quanto à mania, suas características são: excitamento, com rápidas reações emocionais, pensamento relativamente desorganizado e excessiva atividade física. A antiga classificação desse transtorno ainda é usada por muitos estudiosos: hipomania, mania aguda e hiperaguda.
A hipomania é uma forma leve de excitamento, comumente chamada de nervosismo. A pessoa não fala muito, como nos outros tipos de mania, mas se comunica com incomum rapidez, e está sempre fazendo alguma coisa apressadamente.
A mania aguda difere da hipo quanto ao grau. A pessoa fala muito e rapidamente, tem dificuldade em seguir o próprio pensamento, não tem senso crítico e seu comportamento extrovertido revela uma necessidade de dominar os outros, uma felicidade superficial e rituais com elementos religiosos.
Já a mania hiperaguda é a forma extremada do transtorno. O indivíduo tem uma percepção bastante distorcida da realidade e pensamento delirante. Tipo irritadiço, não raro se mostra agressivo em relação aos outros e a si mesmo.
É comum, entre leigos e especialistas, a idéia de que as psicoses funcionais e os transtornos do humor são de fundo hereditário. Quem assim pensa, baseia-se no fato de vários estudos apontarem a incidência de um transtorno depressivo numa família. Também os estudos de gêmeos idênticos (univitelinos) revelaram que, quando um é deprimido, o outro também é. Mas essas conclusões estão longe de ser aceitas por muitos psicólogos. Por quê? Simplesmente porque a personalidade é uma resultante de inúmeros fatores e não só da hereditariedade. O ser humano é sobretudo um ser psicossocial. Logo, é impossível atribuir unicamente ao organismo a causa da depressão, da mania e das psicoses funcionais, cujo nome já diz não serem orgânicas. Em segundo lugar, existe uma herança social marcante na família dos depressivos, como revelam estudos de avós, filhas, netas e bisnetas.
Não há uma demonstração inequívoca de que os transtornos do humor e os esquizofrênicos têm uma base genética, transmitida de acordo com as leis mendelianas. Se houvesse, seus descobridores teriam ganho o Premio Nobel.
Os que realçam a importância dos fatores sociais e pessoais, apontam, como causas dos transtornos do humor, problemas de comunicação e insegurança na infância e exigências sociais altamente estressantes a partir da adolescência. Um lar, uma escola ou uma sociedade, que insiste na necessidade de sucesso individual e que encoraja o indivíduo a competir e a ambicionar sempre mais, por certo condena alguns dos seus membros ao fracasso. E isto fica evidente quando há depressão econômica, com alta porcentagem de desemprego, baixos salários e insegurança material e social. Há um aumento assustador na taxa de deprimidos e maníacos, da mesma forma que na de indivíduos com conduta anti-social.
Tentando conciliar as opiniões em favor dos fatores hereditários e dos psicossociais, há a denominada hipótese diátese-estresse: os transtornos resultam de uma suscetibilidade hereditária, combinada com um ambiente altamente estressante e a falta de habilidades para enfrentar as situações que geram estresse.
A respeito do tratamento psicológico desses transtornos, ele decorre do tipo de abordagem dos mesmos. Para os psicodinâmicos, como os psicanalistas, depressão e mania são regressões do ego, em virtude de conflitos infantis não resolvidos e baixa auto-estima. Os cognitivistas vêem esses transtornos como pensamentos distorcidos e aprendizagens inadequadas sobre si e os outros. E os psicólogos interpessoais os têm como relações comprometidas desde a infância e vínculos sociais insatisfatórios. Com base em sua abordagem etiológica, o psicólogo estabelece o tipo de psicoterapia mais indicado. Mas, em vista do controle da depressão e da mania, é indispensável a farmacoterapia e o controle contínuo da dosagem dos fármacos receitados e ministrados.
Duas obras importantes sobre o assunto são Psicologia dos transtornos mentais de David S. Holmes (Artmed, 2001) e Compêndio de psiquiatriade Harold I. Kaplan, Benjamin J. Sadock e Jack A. Grebb (Artmed, 1997).